sábado, 9 de abril de 2011

Passos de Um Novo Coração


1º passo:
Aprecia-se o bisturi. Desinfeta-o e prepara-o para a incisão. Neste momento o paciente está adormecido, em puro êxtase. Em pura morfina e sedativos. É o momento em que ele sabe que vai ser cortado, mas mesmo assim ele entra nessa situação. Por que?
2° passo:
 Faz-se um mapeamento da área a ser cortada. Perto do peito. Geralmente o paciente sente uma leve pontada na área que logo será cortada. É como se ele sentisse que vai sofrer um corte, mas mesmo assim ele nada pode fazer por causa dos sedativos.
3° passo:
O corte é feito. A dor é incessante. Forte, invencível. A pele vai-se rasgando aos poucos. Milimetricamente no ponto em que precisamos para que o coração seja tirado. A dor é profunda e o paciente sente, dentro de si que algo estar-se à rasgar dentro dele. Embora o corte pareça superficial e exterior, a dor é bem interna e real. Sente-se no ponto mais fraco do paciente, porém também no mais forte. O coração.
4° passo:
O coração é retirado do corpo. Ele não se encontra em seu estado original como antes da operação já agendada tempos atrás. Ele se encontra em pedaços, quase que partido. Não está velho, porém está longe de ser novo. Ele pulsa, de maneira fraca, serena, quase não dá para escutar seus batimentos. Nas mãos do doutor o coração parece desfalecer-se, desfazendo-se, separando-se, quase que como cacos de vidro que não se conseguem juntar.
5° passo:
O novo coração é segurado pelo médico. É um coração novo, belo, brilhante, pulsa fortemente, está cheio de esperança. Parece um pouco revestido de esplendor e de proteção externa. Lembra-se diversos ditados. Um coração invencível, forte, poderoso. Parece duro como pedra, nobre como uma montanha.
6° passo:
O novo coração é colocado no lugar do antigo. Ele cabe certinho no vácuo que ali ficou no peito do paciente. Embora de tamanhos diferentes, é surpreendente que caiba dessa forma, mas mesmo assim coube.
7° passo:
O paciente começa a estranhar o coração novo. Os demais órgãos parecem querer expulsá-lo do corpo que outrora foi ocupado pelo verdadeiro coração. Aquele velho, maltratado e despedaçado.
8° passo:
O paciente morre. O coração velho também. O novo igualmente.
Dodo.

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