sábado, 9 de abril de 2011

Crônicas de Ônibus


Adentra-se em um ônibus. As 17:30 ou as 06:30.
Pera aí..Você entrou no ônibus? Como conseguiu?
Se você entrou no ônibus é de se apostar que esteja preso na porta. Portanto você ainda não entrou no ônibus porque seu pé pode estar para fora do mesmo, ou metade do seu corpo. E como em um jogo de futebol, ou entra tudo ou não é gol.
O motorista está sempre cercado por corvetes. O que seriam essas espécies? São os puxa-sacos do motorista que o envolvem, fazendo amizade com ele para não pagarem passagem. São os responsáveis pela grande dificuldade de se adentrar em um ônibus. Qualquer semelhança com corvos é pura coincidência. São distribuídos em dois setores. No motorista e no cobrador. Dificultam a entrada no ônibus e a passagem pela roletinha, ou melhor, pela famosa catraca.
Depois de praticamente voar por cima das corvetes, você se depara com uma enorme fila pela catraca. Ocasionada simplesmente por aquela pessoa que está com o bilhete quebrado ou que está contando moedas, todas de 5 centavos.
A catraca é a porta dos desesperados. Se eu fosse comparar, a entrada do ônibus seria o jardim e a catraca seria a porta da casa. Ou seja, você apenas passou pelo começo.
Pode-se separar a vida de um ônibus como A.C e D.C. Antes da catraca e depois da catraca.
Uma olhada para a região após a catraca e você percebe onde está. Em uma verdadeira balada. É tanta gente, tanta gente que falta apenas uma música para transformar este espaço em uma gigantesca balada sobre quatro rodas. A música as vezes até que tem, mas...é sempre funk dos celulares dos nikemans, ou forró dos tiozinhos. Daí complica.
Passa-se a catraca, geralmente isto é feito no meio do percurso para frente....
Pronto. Você está no mar de pessoas. Pode soltar o braço das hastes. Não se preocupe, você não vai cair. Daí para frente você irá provar a teoria de que o ser humano pode sim se transformar em um invertebrado.
Fora que, você se tornará um exímio dançarino. Sempre na ponta dos pés, driblando todo mundo, vai ser difícil não aplicar estes passos em alguma festa que você for.
Da catraca para frente, vale a lei do mais forte. Seu destino? A porta de saída. Seus inimigos. O exército inteiro de pessoas da cidade conhecida como São Paulo. Depois de 300 de Frank Miller, eu lhes apresento os 600 de SP.
Comprovado pelo I.D.Q.E.S.I.P.E.N.O.D.S (Instituto dos Que Estão Sem Inspiração Para Escrever na Ordem do Saber), abaixo se seguem os seguintes dados:
- De cada 100 pessoas que você vê no ônibus, 98 estão dormindo (mesmo em pé), exceto você e o motorista (ainda bem...), porque o cobrador já foi dessa para melhor faz tempo
- O ônibus é o único lugar que desmascara o INMETRO. Ele diz que dentro do ônibus cabem 60 pessoas. Mentira. Às 17:30 cabem exatamente 467 pessoas.
No percurso até a porta da esperança, ou seja a de saída, você verá que antigas brincadeiras ainda não morreram. Um exemplo é a dança das cadeiras. Estratégicamente, muitos já sabem onde as pessoas irão descer e logo começa uma verdadeira batalha para ver quem irá sentar no lugar da pessoa que se levantou.
Dica: Nunca, nunca, por nada em sua vida sente nos assentos amarelos. Jamais. Muitas vidas inocentes já foram tiradas e muitas mães dos que sentaram nestes assentos já foram xingadas por causa deste assento.
Encoxamentos, pessoas safadas, possíveis ladrões, tranca ruas (pessoas que ficam no meio do corredor sendo que poderiam ir para o fundo...), pessoas que querem ser encoxadas, pessoas que tem síndrome de encoxamento (basta encostar o braço que a pessoa acha que você a está encoxando), barreiras fixas (são as hiper sacolas de compras que somente quem treina triatlo pode pulá-las), são alguns dos inimigos que você irá enfrentar até chegar à porta do fundo.
Não desista. Você está quase lá.
O ônibus nos ensina algo que as escolas nunca irão ensinar. Força de vontade e garra. Porque sem isso você desiste no meio do caminho e desce apenas no terminal.
Atenção: no ônibus as pessoas tentarão jogar todas as suas frustrações de seus trabalhos, casas e demais assuntos em você. Por isso fique atento aos sinais. Todo passageiro se comunica por uma linguagem própria de ônibus, que se chama: “tsc”. Esses tsc são extremamente perigosos. Se você escutar mais de quatro tsc de um mesmo passageiro, saia de perto dele, porque a barra de estresse dele vai logo se descarregar. Em você.
Existem ainda demais barreiras. Se o dia estiver chuvoso. Se prepare para entrar na selva. As janelas fecharão, e o ar dirá tchau ao ônibus. Todos estarão com cheiro de cachorros molhados. Vai ser uma festa e tanto na piscina móvel.
Depois de muito pular, voar, rastejar, espremer. Você chega à porta de fundo. Provavelmente você avistará mais um clã. O clã dos porteiros. Todo o dia eles estão nas portas. São sempre os mesmos, é só notar.
Você desceu.
Dica: Confira se você ainda possui duas pernas e dois braços. Eles podem ter ficado para trás no meio da jornada. Confira se você ainda está vestido e se você ainda possui pele.
Se você está do mesmo jeito que saiu, sem nenhum arranhão, ou dente quebrado. Parabéns! Você conseguiu!!!! Você desceu! Alegre-se pois amanhã começa tudo novamente!!!!!!

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