sábado, 2 de julho de 2011

Ordem do Saber



 Diário

19/06/2011

O pior inimigo é o nada.

O nada cada vez se faz mais presente em nossa alma. Ele se disfarça de tudo, mas o tudo que sempre pensávamos se torna a acabar. E aí percebemos que nada tínhamos além de nós mesmos.

Mas ao nos cercarmos desse tudo, ao nos tornarmos tudo, percebemos que somos nada.

O nada está sempre nos rondando, esperando a primeira queda, a primeira lágrima,o primeiro desânimo, o primeiro tropeço. A primeira chance de se mostrar presente.

Se o nada viesse como ele realmente é, no mesmo segundo o expulsaríamos de nossos interiores. Mas ele é falso. Afinal ele é o nada.Afinal é o tudo de nossos dias. Nunca percebemos nada, somos apenas levados em tudo. Andamos por um tudo, apenas ladrilhando nossas estradas com aquilo que não dura para sempre.

Nada é melhor do que tudo.

Não existe um inimigo mais poderoso e mais temível do que o nada.

São palavras jogadas ao vento, são exibições sem nenhum demonstrativo, são razões perdidas em si mesmas, são jogatinas do destino. E o próprio destino se desfazendo.

O nada é tudo isso e mais.

São as pessoas que nunca voltam para nós, são os amigos-colegas, são as pessoas de ocasião, é a esperança desvairada no irreal, são os momentos de perdição ou a vida que nunca entra em transição.

A inspiração perdida, a chance deixada para trás, o orgulho pessoal, a revolta banal, a falsa honra, a morfina psicológica.

Eis o nada em seu estado mais material.

Quantas vezes temos rosas nas mãos, andamos pela boa estrada, e esta estrada nunca acaba. Olhamos tanto para a flor, tão absurdamente incapacitados de notar a estrada pela qual caminhamos, tão absortos e obcecados pela flor, que nem notamos o sol que fez ela se abrir.

Quando chegamos ao destino, a flor nem importa mais. Está velha, caída, murcha. Viajamos muito com ela na mão, que nos esquecemos de regá-la.

O nada é como se divertir em um quarto escuro, se sentir feliz enquanto se procura o interruptor para trazer luz àquele embriagante ambiente.

É neste momento que nos dividimos:

Entre aqueles que procuram o interruptor, e os que se divertem no escuro para sempre se achando completos por estarem ali, naquele momento. E assim continuam por um bom tempo.

Os que procuram pelo interruptor também se dividem em dois:

Aqueles que passam o tempo todo a procurá-lo, e aqueles que acham. Crê-se que todos um dia que procuram a luz irão encontrá-la. Alguns passam suas vidas inteiras procurando e não a encontram.

Quem encontra e acende a luz percebe o salão onde esteve este tempo inteiro. Geralmente uma grande tristeza invade o peito destes, porque eles vêem que aquele salão é o lugar mais sujo e deprimente que já viram, se sentem felizes por finalmente poderem enxergar tudo com mais clareza, e percebem também que a casa é muito maior que pensaram, com muitos mais cômodos do que imaginaram. Alguns com a luz acesa, outros com luzes apagadas. Mas agora, embora tenham vivido totalmente no escuro e estarem tristes por isso, possuem consciência suficiente para saber para onde irem. Para procurarem os cômodos com luz.

E àqueles que vivem eternamente no escuro, pensando terem tudo, ligando para si mesmos, mesmo não enxergando um palmo á sua frente, muito cuidado. Vocês podem não quererem encontrar o interruptor, mas alguém um dia irá acender a luz.

Afinal, embora no escuro, todos moramos na mesma casa.

Chamada vida.

Dodo.

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