domingo, 14 de agosto de 2011

Lembrei-me Nesta Manhã




Eu me lembro muito bem de quando a gente brincava de ser humano.

Lembrei-me hoje de manhã, nessa manhã tão cinza, de quando eu era apenas um garotinho que queria ser jogador de futebol. Jogava no quintal da minha casa, mas na minha cabeça eu estava no meio do campo. E assim também meus olhos enxergavam. As pessoas não me machucavam. Aliás, não existia na minha cabeça essa palavra chamada machucar....estranho isso.....

Lembrei-me hoje de manhã, nessa manhã tão cinza, de quando eu era apenas um garotinho que esperava meu primo vir até minha casa. Brincávamos em qualquer lugar, na garagem, no quarto, no quintal, na varanda. O espaço era tão pequeno, mas em nossas mentes não era. E também em nossos olhos enxergávamos dessa forma, tudo o que imaginávamos se fazia verdade bem na nossa frente. Podíamos até tocar nossa imaginação.
Difícil explicar.
Em um momento éramos policiais de Racoon City, éramos Leon, Chris....em outros lutávamos em um torneio de luta, éramos Johnny Cage, Sub-Zero, depois éramos Andy, Terry, Yori, Kyo, depois éramos Goku, Yamcha, Vegeta.
As pessoas não me machucavam. Aliás, não existia na minha cabeça essa palavra chamada machucar....estranho isso.....

Lembrei-me hoje de manhã, nessa manhã tão cinzenta, de quando eu era apenas um garotinho que queria ser jogador de basket. Jogava em uma cesta colocada na parede da minha casa, mal tinha espaço para arremessar, mas na minha cabeça eu estava no meio da final, a quadra era gigantesca, assim como a platéia que me assistia. E tudo isto era real, eu podia sentir, tocar.
Minha imaginação não era imaginação.
As pessoas não me machucavam. Aliás, não existia na minha cabeça essa palavra chamada machucar....estranho isso.....

Lembrei-me hoje de manhã, nessa manhã tão cinzenta, de quando eu era apenas um garotinho querendo ser cantor. Cantava e dançava na sala, tirava a mesinha do meio, e ficava descalço no tapete. Minha única companhia era o som, mas na minha mente eu tinha uma platéia que gritava meu nome sem parar, e isto, era real. Não sei explicar.
As pessoas não me machucavam. Aliás, não existia na minha cabeça essa palavra chamada machucar....estranho isso.....

Lembrei-me hoje de manhã, nessa manhã tão cinzenta, de quando eu era apenas um garotinho, que antes do dormir imaginava histórias fantásticas, com início, meio e fim. Demorava muito tempo para dormir, ficava me imaginando no meio das minhas histórias, horas herói, horas vilão, hora atacando, horas me defendendo, horas salvando, horas ganhando, horas perdendo, tudo parecia tão real para mim.
As pessoas não me machucavam. Aliás, não existia na minha cabeça essa palavra chamada machucar....estranho isso.....

Lembrei-me hoje de manhã, nessa manhã tão cinzenta, de quando eu era apenas um garotinho que devaneava sozinho, parado durante muitos minutos, sonhando em fazer a diferença na vida das pessoas, de curar um pouco do mundo.
As pessoas não me machucavam. Aliás, não existia na minha cabeça essa palavra chamada machucar....estranho isso.....
Lembrei-me hoje de manhã, nessa manhã tão cinzenta, de quando eu era apenas um garotinho que imaginava um amor perfeito. Era amor mesmo. Era poesia se transformando em realidade. Tudo o que os contos de fada me faziam acreditar, eu imaginava ali, naqueles momentos. Segurava a mão dela, beijava, passeava por parques. Ela não tinha um rosto ou algo assim. Não era alguém que eu conhecia, era apenas um ideal.
E tudo era real, em minha imaginação. Difícil explicar.
As pessoas não me machucavam. Aliás, não existia na minha cabeça essa palavra chamada machucar....estranho isso.....

Aí veio o mundo, com todas as suas regras novas e sem sentido.
E eu sinto que todos os dias ele tenta tirar tudo isso de mim. Todas essas grandes sensações que eu sentia quando pequeno. E não somente de mim, mas de muita gente que conheço.
De algumas ele conseguiu tirar tudo. Elas nem ao menos parecem notar isso....estranho.

Aí veio o mundo, e a palavra machucado fez sentido para mim. Estranho isso......

Aí veio o mundo, e ele fez-me questionar:

“Passei minha vida inteira em minha imaginação, criando uma utopia para mim mesmo, que quando caí no mundo real, descobri que tudo não passava de imaginação?
Estaria eu, procurando jóias no meio de bijuteria?
Tudo o que eu acredito é verdade apenas para mim?
Eu estou errado?
Ou a realidade é tão crua que o escapismo de meus sonhos é o único lugar onde posso me refugiar?
Estaria eu obcecado pela perfeição, que nada me parece bom o bastante?”

Constatei de manhã, nessa manhã tão cinza:

Tudo o que passei em minha infância, me fez ser o que sou hoje.
Não sou bom, não sou certo. Erro, peco, exagero, falho. Mas tenho uma imensa e infinita vontade de melhorar como ser humano.
Para alguns, um tolo sonhador.
Para outros, um bobo.
Para alguns, ingênuo, indefeso.
Para outros, quieto demais, silencioso.
Para uns infantil demais, despreparado.
Para outros, inteligente.
Para uns, burro, idiota, sem graça.
Para uns, feio.
Para outros, bonito.
Para uns, garotinho.
Para outros, homem.

Lembrei-me hoje de manhã, nessa manhã tão cinzenta, do quanto sinto orgulho por ser quem sou.

Dodo.


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