domingo, 1 de dezembro de 2013

Perdi


 
 
Acordei assustado, quase que ofegante.
Sabia, ou tinha sonhado, que faltava algo. E logo denotei a verdade.
Havia sumido.
Eu a tinha perdido!
Não, "calma", eu disse a mim mesmo e a meu espetaculoso senso de desespero.
Eu não a tinha perdido, afinal, não se perde algo assim.
Muito embora minha mente agia como um tranquilizante em meus pensamentos, meu peito fazia exatamente o contrário.
Excitava cada vez mais minhas veias e meus batimentos a se desesperarem.
E cá estava eu, sentado na cama desesperado.
Olhei ao meu lado direito, nada encontrei.
Do meu lado esquerdo, somente uma parede.
Nada lá também.
Tateei meu corpo à procura, mas nada encontrei.
Respirei uma, duas, três vezes bem fundo.
Só piorou.
Resolvi me levantar e olhar debaixo da cama. Nada além do habitual.
Não estava lá.
"Eu perdi, eu perdi, eu perdi!" Diziam as minhas mil vozes dentro de mim mesmo.
E isso me tornava ainda mais louco para achar.
Vesti a primeira roupa que encontrei, aproveitando claro para dar aquela olhadela dentro do guarda roupa (não estava lá também), e saí em desespero pela rua.
Olhando para todos os lados, como um verdadeiro desesperado naquela manhã ainda cedo.
Nada de encontrar.
Virei as primeiras três esquinas, driblando carros (olhando sempre dentro deles), passando por postes (olhando sempre para cima deles), por casas (olhando pelos vidros e portas tentando ver algo lá dentro) o que não foi muito bom, pois logo percebi que a polícia poderia ser chamada.
Quase fui atropelado ao correr em uma rua (aproveitando para olhar dentro do bueiro da mesma), quando um carro rasgou à meio fio da calçada (confesso que olhei de relance dentro do carro, talvez isto tenha assustado o motorista).

Já havia se passado quase trinta minutos e eu estava ofegante, já não conseguia mais correr.
Havia procurado em cada canto, cada lugar (cada lugar mesmo, cheguei a entrar em uma construção de prédio, dentro do buraco da viga principal, foi difícil sair...), cada árvore, cada esquina, cada cachorro (quase morri olhando dentro da boca de um), gato (arrogantes, nem mesmo deixaram eu arranhá-los para saber se eram mesmo gatos), pássaro (fugiam sempre que eu me aproximava), cada formiga (malditas!), cada telhado (difícil, mas interessante, até os moradores de uma casa saírem com paus para me
pegar), cada automóvel, dentro de cada bolso de cada pessoa que passou ao meu lado (não em todos, admito, algumas pessoas estão muito nervosas ultimamente, outras me ofereceram mais bolsos para eu ver... constrangedor), ousei-me olhar até para as nuvens (minha imaginação me levou a acreditar que as nuvens formavam a frase " não acredito que você perdeu"), não estava lá. Não estava em lugar algum!

Foi só então que percebi, que tive aquela constatação miserável, mas alegre, que sempre temos quando achamos algo.
Eu não havia perdido. Não havia perdido!
Confesso que uma risada louca e sinistra, porém feliz, tomou conta de mim.

Eu não havia perdido.
Realmente não haveria como perder.

Encontrei onde havia deixado da última vez. Onde sempre esteve e provavelmente sempre estará.

Você estava no meu coração.

Dodo.


4 comentários:

  1. Muito interessante o texto, com a desesperada loucura de uma busca sem sentido, quando afinal de quem verdadeiramente gostamos ou gostámos estará no nosso coração.
    Gostei, Dodo!
    xx

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