domingo, 29 de dezembro de 2013

Dois


 
 
Mãos entrelaçadas em meio à um parque.
Dois namorados se beijam debaixo de uma árvore.
Perto da catraca do metrô, um casal se abraça feliz por estarem juntos.
No shopping, um casal toma milk-shake enquanto um belo sorriso toma conta dos seus rostos.
Na rua, um casal passa do meu lado. Dá para sentir a felicidade deles.
No cinema, depois do filme acabar, diversos casais ficam um pouco mais sentados, à se beijarem.
Na praça, um casal de idosos está sentado, um ao lado do outro, abraçados.

Volto minha visão para frente.
Penso em você por alguns segundos.
Uma pequena dor bate em meu peito.
Estranho... não estou machucado, mas me sinto como se estivesse.
Magoado... essa é a palavra certa.

Dou mais alguns passos, cabeça um pouco abaixada, mãos nos bolsos.
Presto atenção apenas nos meus pés e no caminho que eles estão fazendo.

Começo à me lembrar dos últimos quatro dias dos namorados, e da tentativa boba do meu orgulho em me convencer de que se trata apenas de um feriado comercial.
Me lembro do último dia dos namorados que eu passei com alguém.
Meu orgulho é quebrado.
Me pergunto se é possível não ter mais memórias, acreditando que assim seria melhor.

Memórias boas nos fazem lembrar de tempos bons.
Tempos passados.
Memórias ruins nos fazem sentir mal.
Tanto uma quanto outra já não pertencem ao tempo presente. Ambas me fazem mal. As duas perderam a utilidade para mim.

Acho um banco em outra praça que está vazio.
Sento e me sinto calmo.
As árvores, o ar, o silêncio.
Parece um bom lugar.

Me lembro de como era se sentir amado.
Meus olhos lacrimejam um pouco.
Tento segurar o máximo que posso.
Me lembro dos sorrisos, dos beijos, dos abraços, das brincadeiras, de ser completo, de sonhar, de ser aceito, de ter meu lugar no mundo, e o mais importante, me lembro de ter meu sentimento recebido e de receber de volta ainda mais.
Me sinto um nada comparado com essas lembranças.
A primeira lágrima cai.
Fecho os olhos e a limpo.

Começo a pensar nos último anos.
Me sinto um idiota.
Correndo atrás do vento, tentando alcançar o vazio.

Penso em todos os problemas do mundo.
Fome, pobreza, doenças.
Meu caso é mísero perto de tudo isso.
Aparentemente, ao menos.
Porque dentro de mim me sinto esfaqueado.

Hoje não é um dia para salvar o mundo.
Hoje é um dia para tentar me salvar.

Me levanto, e volto à caminhar.
As pessoas querem me convencer de que é possível ser feliz sozinho.
Não sorrio, não choro.
Apenas vou seguindo meu caminho.

O mundo está cheio de sons. Dentro de mim parece morar um silêncio gigantesco

Chego em casa e escrevo um texto sobre tudo o que vi e o que senti.
Me arrependo de ter escrito, como sempre.
Me pergunto se o Word é minha namorada.
Dou meu primeiro sorriso do dia.

Desligo o computador e vou dormir.
Penso em você novamente.

Durmo facilmente, como se estivesse extremamente cansado.

Daí percebo:

Eu estou cansado.

 

Dodo.

4 comentários:

  1. Olá, Ordem do Saber

    Escrever é uma catarse.

    Dores não se comparam. A maior dor que existe é a que sentimos.

    Desejo um Ano Novo cheio de energia e alegrias.

    Abraços!

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    1. Obrigado.

      Um ótimo ano novo para você também.

      E sim, só quem sente sabe o quanto dói, independente do tipo de dor.

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  2. Pensar sobre o que foi e deixou de ser deixa-nos muito cansados, extenuados até. Só que esse cansaço de tanto pensar é o luto que permitirá sofrer cada vez menos. Quando a nossa dor é muito profunda nem conseguimos ser racionais e pensar que a dor de sentir fome pode ser maior nem nessa altura nos apazigua.
    Esse sentimento tão forte de perda vai passar, e quanto mais o cansaço melhor. E cansar muito o corpo também alivia a alma.
    Um abraço Dodo.
    xx

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    1. Vou cansar o corpo então, porque pensando bem, isso realmente alivia a alma e a tristeza.

      Abraço.

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