As Flores 2

No devaneio da percepção,

Surgem imagens de outrora.

No antigo jardim encontro-me,

Onde cedo, antes fui embora.

Reencontro-me com elas,

As mesmas que para trás deixei,

Os tempos passaram,

Eu mudei.

"O que aconteceu meu rapaz,

Para aqui voltar?"

- Disseram elas,

Sem pestanejar.

"Uma novidade tenho para lhes contar"

- Disse eu,

Sem me demorar.

"Já sabemos, antes mesmo de falar,

Encontraste o que procuravas,

E agora estás a se vangloriar" - Disseram elas,

À se antecipar.

Eu lhes disse que nunca deixaria a soberba me dominar,

E que estava ali apenas para felicidade compartilhar.

"Foste embora machucado,

Mas voltaste mudado.

Se é felicidade, não temos como saber,

Mas estamos felizes de assim te ver."

As flores começaram a brilhar,

Pareciam estrelas a encantar.

Uma cena única,

Uma obra-prima à se admirar.

Nunca tinha visto

Tamanha perfeição,

O jardim mais bonito e colorido,

Digno de se emocionar.

"O tempo te curou,

O tempo e o amor,

Nós tínhamos lhe falado,

Que passageira é toda dor."

Elas cantavam essas frases,

Em sublime tom,

Parecia uma orquestra divina,

Um angelical som.

Tentei me manter firme,

Mas não pude evitar,

Quando me vi,

Uma lágrima já estava no meu rosto à passear.

Do tempo desde o último encontro,

Comecei a me lembrar.

Enquanto as flores brilhavam

E continuavam a cantar.

Lembrei do caminho percorrido,

Das escolhas e pessoas erradas,

Das noites tristes,

Das frases caladas.

"O tempo e o amor

Tudo hão de curar,

Pois não existe sentido

Se não se apaixonar."

- Disseram elas,

Quase à poetizar.

Mesmo muito triste

Por embora daquele jardim mais uma vez ter de ir,

Contemplei as Flores,

E as escutei, antes de dali sair:

"Aproveite este momento,

Cada abraço, cada olhar,

Toda emoção, os sentimentos,

As belezas, o amar.

Desfrute da pureza, das surpresas,

Deixe a vida te tocar,

Tudo é passageiro,

Mas simples de eternizar."

Sorri,

Antes de me despedir,

Àquelas flores,

Agradeci.

Elas me disseram

Que estariam ali para o que for:

"Pois, de que vale a vida sem amor?"

Dodo.