terça-feira, 10 de setembro de 2013

Os Quadros



Às vezes acho que a vida de cada um é como um grande quadro de um grande pintor.

Imagino um quadro onde está pintado uma floresta e no centro uma clareira com direito a fogo a lenha e tudo.

Ao redor da fogueira estão jovens escoteiros se abraçando, rindo e fazendo palhaçadas. Um com dedo no nariz, outro fazendo careta, está pintado também um casal se beijando. Na ponta estão dois rapazes brincando de luta, coisa de homem. As estrelas estão no céu que por sua vez está limpo e escuro.

A mesma quantidade de lenha que está sendo queimada é a mesma quantidade de sorrisos que estão pintados e estampados no rosto de cada um dos jovens. Parecem estar se divertindo bastante.

Não existem erros, ou ainda não foram descobertos. Não existem preocupações, ou ainda não sentiram. Não existem obrigações, ou se esqueceram.

Nada parece importar para os jovens pintados no quadro, somente aquele momento, somente aqueles sorrisos.

Acho que é mais ou menos quando estamos felizes, quando estamos rindo ao lado de amigos e colegas que nos fazem bem.

Se eu não me engano o nome desse quadro é Felicidade.

Em outro quadro vejo um rio, belo e reluzente cortando a floresta no meio. Ao fundo uma bela cascata que no meio da noite parece ter sido feita pela própria noite, caindo suavemente na natureza, parecendo ser o único som daquela figura.

Na margem do rio há alguém sozinho molhando os pés na suave correnteza.

Embora a imagem dela pareça pequena, é possível ver que ela está de olhos fechados e que algumas lágrimas escorrem pelo seu rosto, descendo pelas maçãs do rosto, depois pelo queixo, indo se juntar à água do rio.

Dali para mais adiante na pintura já não é mais possível separar o que são lágrimas do que é o rio, pois ali tudo está misturado.

O brilho do céu não é tão claro nessa pintura quanto era na outra, muito embora pareça a mesma floresta e a pessoa à margem do rio está vestindo a mesma roupa dos jovens que estavam no primeiro quadro.

Apesar de que agora, reparando na ponta do quadro, tem uma fumaça no céu que está saindo de algum lugar, passando por cima da cachoeira que está no fundo.

Posso não ter certeza, mas se não me engano o nome desse quadro é Tristeza.

Tem outro quadro com um banco no meio.

Parece ser outono porque dá para ver claramente o farfalhar de diversas folhas secas e velhas voando por todo o quadro.

Tem um banco de praça bem no meio do quadro e sentado nele está um casal de idosos. Tem uma grande paz envolvendo esse quadro. A senhora está com a cabeça apoiada no ombro do senhor, que a abraça aparentemente de uma maneira suave e delicada.

Dá para ver que ela está dando um leve sorriso, mas somente para ela mesma, pois está fora do campo de visão dele.

Ele parece estar de olhos fechados e falando. Com certeza falando que a ama, ou lembrando de como se conheceram, recitando algum poema engraçado que ele deve ter escrito para ela quando eram ainda jovens, ou contando alguma anedota nova que idosos na maioria das vezes costumam contar para quebrarem o clima.

Pela forma como o quadro está pintado, não existe outro lugar onde aquela senhora gostaria de estar se não ali, nos braços daquele senhor.

E o senhor parece ser o rei de seu próprio mundo simplesmente por estar abraçando aquela senhora.

Minha memória está frágil ultimamente, mas se não me engano o nome desse quadro é Amor.

Existem mais e mais quadros, infinitos por assim dizer, dentro de nós, fora daqui e em algum lugar apenas esperando para que sejam pintados. Mas ainda vivemos sobre esses três.

Tem um quadro que mostra a pintura de um quadro.

Tem alguém rindo bastante enquanto pinta um quadro à sua maneira. Traz na mão diversas cores e parece estar em um ateliê ou algo do tipo.

Existem vários quadros no chão, já pintados, e um que ele está pintando no momento.

O pintor parece estar bem satisfeito. Aparenta estar bem confiante também, cheio de orgulho por estar pintando seus próprios quadros e não aparenta ser apenas mais uma criação do Pintor. Apenas mais um desenho, mais uma pintura.

Nem parece ter consciência de que todos os desenhos e pinturas que criou, e até as cores e o formato dele mesmo, foram pintados, assim como seus próprios quadros pelo Pintor principal.

Esse quadro eu tenho certeza do nome, não me esqueceria porque me chocou muito. O nome desse quadro é Esquecer de Deus.

Por mais que queiramos colorir nossa vida com as cores que queremos, nós não somos os pintores dela.
As cores vão aparecendo, para cada um de uma forma diferente, e assim vamos vivenciando a felicidade, a tristeza e o amor. Todos os seres humanos são pintados nesses quadros, todos eles vivenciam isso.

Não com as mesmas cores, não da mesma forma, não na mesma tonalidade.

Cada quadro é diferente do outro, assim como cada cor possui sua particularidade, mas definitivamente não somos nós que os pintamos.

Temos apenas que acreditar que o Pintor vai fazer um belo trabalho no quadro e ir nos adaptando conforme o quadro é pintado e conforme vamos pisando nos cenários e cores que vão sendo criados em nosso caminho.

Já são milhares de anos desde que as pinturas podem ter começado, e o Pintor nunca desenhou algo imperfeito, mesmo quando nos desenha no quadro Esquecer de Deus, ainda assim é ele o pintor.

E ainda assim ele possui seus próprios motivos para nos ter pintado nesse quadro.

Só nos resta crer enquanto somos criados nos quadros.

Dodo.



3 comentários:

  1. Olá Dodo,

    Bela inspiração neste lindo texto, que adorei ler.
    O Pintor maior não comete enganos, pois sabe das necessidades de cada um de nós e somente pinta no quadro de nossa existência as experiências pelas quais necessitamos passar para o nosso crescimento e evolução. No entanto, acredito que podemos colorir os quadros da nossa vida com as cores da esperança e da fé.

    Abraço.

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    1. Como sempre você tem as palavras perfeitas para o momento certo.

      Abraços.

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  2. Um texto muito belo!
    Gostei muito de ler.

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