Às vezes acho que a
vida de cada um é como um grande quadro de um grande pintor.
Imagino um quadro onde
está pintado uma floresta e no centro uma clareira com direito a fogo a lenha e
tudo.
Ao redor da fogueira
estão jovens escoteiros se abraçando, rindo e fazendo palhaçadas. Um com dedo
no nariz, outro fazendo careta, está pintado também um casal se beijando. Na
ponta estão dois rapazes brincando de luta, coisa de homem. As estrelas estão
no céu que por sua vez está limpo e escuro.
A mesma quantidade de
lenha que está sendo queimada é a mesma quantidade de sorrisos que estão
pintados e estampados no rosto de cada um dos jovens. Parecem estar se
divertindo bastante.
Não existem erros, ou
ainda não foram descobertos. Não existem preocupações, ou ainda não sentiram.
Não existem obrigações, ou se esqueceram.
Nada parece importar
para os jovens pintados no quadro, somente aquele momento, somente aqueles
sorrisos.
Acho que é mais ou
menos quando estamos felizes, quando estamos rindo ao lado de amigos e colegas
que nos fazem bem.
Se eu não me engano o
nome desse quadro é Felicidade.
Em outro quadro vejo
um rio, belo e reluzente cortando a floresta no meio. Ao fundo uma bela cascata
que no meio da noite parece ter sido feita pela própria noite, caindo
suavemente na natureza, parecendo ser o único som daquela figura.
Na margem do rio há
alguém sozinho molhando os pés na suave correnteza.
Embora a imagem dela
pareça pequena, é possível ver que ela está de olhos fechados e que algumas
lágrimas escorrem pelo seu rosto, descendo pelas maçãs do rosto, depois pelo
queixo, indo se juntar à água do rio.
Dali para mais adiante
na pintura já não é mais possível separar o que são lágrimas do que é o rio,
pois ali tudo está misturado.
O brilho do céu não é tão
claro nessa pintura quanto era na outra, muito embora pareça a mesma floresta e
a pessoa à margem do rio está vestindo a mesma roupa dos jovens que estavam no
primeiro quadro.
Apesar de que agora,
reparando na ponta do quadro, tem uma fumaça no céu que está saindo de algum
lugar, passando por cima da cachoeira que está no fundo.
Posso não ter certeza,
mas se não me engano o nome desse quadro é Tristeza.
Tem outro quadro com
um banco no meio.
Parece ser outono
porque dá para ver claramente o farfalhar de diversas folhas secas e velhas
voando por todo o quadro.
Tem um banco de praça
bem no meio do quadro e sentado nele está um casal de idosos. Tem uma grande
paz envolvendo esse quadro. A senhora está com a cabeça apoiada no ombro do
senhor, que a abraça aparentemente de uma maneira suave e delicada.
Dá para ver que ela
está dando um leve sorriso, mas somente para ela mesma, pois está fora do campo
de visão dele.
Ele parece estar de
olhos fechados e falando. Com certeza falando que a ama, ou lembrando de como
se conheceram, recitando algum poema engraçado que ele deve ter escrito para
ela quando eram ainda jovens, ou contando alguma anedota nova que idosos na
maioria das vezes costumam contar para quebrarem o clima.
Pela forma como o
quadro está pintado, não existe outro lugar onde aquela senhora gostaria de
estar se não ali, nos braços daquele senhor.
E o senhor parece ser
o rei de seu próprio mundo simplesmente por estar abraçando aquela senhora.
Minha memória está
frágil ultimamente, mas se não me engano o nome desse quadro é Amor.
Existem mais e mais
quadros, infinitos por assim dizer, dentro de nós, fora daqui e em algum lugar
apenas esperando para que sejam pintados. Mas ainda vivemos sobre esses três.
Tem um quadro que
mostra a pintura de um quadro.
Tem alguém rindo
bastante enquanto pinta um quadro à sua maneira. Traz na mão diversas cores e
parece estar em um ateliê ou algo do tipo.
Existem vários quadros
no chão, já pintados, e um que ele está pintando no momento.
O pintor parece estar
bem satisfeito. Aparenta estar bem confiante também, cheio de orgulho por estar
pintando seus próprios quadros e não aparenta ser apenas mais uma criação do Pintor.
Apenas mais um desenho, mais uma pintura.
Nem parece ter
consciência de que todos os desenhos e pinturas que criou, e até as cores e o
formato dele mesmo, foram pintados, assim como seus próprios quadros pelo Pintor
principal.
Esse quadro eu tenho
certeza do nome, não me esqueceria porque me chocou muito. O nome desse quadro
é Esquecer de Deus.
Por mais que queiramos
colorir nossa vida com as cores que queremos, nós não somos os pintores dela.
As cores vão
aparecendo, para cada um de uma forma diferente, e assim vamos vivenciando a
felicidade, a tristeza e o amor. Todos os seres humanos são pintados nesses
quadros, todos eles vivenciam isso.
Não com as mesmas
cores, não da mesma forma, não na mesma tonalidade.
Cada quadro é
diferente do outro, assim como cada cor possui sua particularidade, mas
definitivamente não somos nós que os pintamos.
Temos apenas que
acreditar que o Pintor vai fazer um belo trabalho no quadro e ir nos adaptando
conforme o quadro é pintado e conforme vamos pisando nos cenários e cores que
vão sendo criados em nosso caminho.
Já são milhares de
anos desde que as pinturas podem ter começado, e o Pintor nunca desenhou algo
imperfeito, mesmo quando nos desenha no quadro Esquecer de Deus, ainda assim é
ele o pintor.
E ainda assim ele
possui seus próprios motivos para nos ter pintado nesse quadro.
Só nos resta crer
enquanto somos criados nos quadros.
Dodo.
Olá Dodo,
ResponderExcluirBela inspiração neste lindo texto, que adorei ler.
O Pintor maior não comete enganos, pois sabe das necessidades de cada um de nós e somente pinta no quadro de nossa existência as experiências pelas quais necessitamos passar para o nosso crescimento e evolução. No entanto, acredito que podemos colorir os quadros da nossa vida com as cores da esperança e da fé.
Abraço.
Como sempre você tem as palavras perfeitas para o momento certo.
ExcluirAbraços.
Um texto muito belo!
ResponderExcluirGostei muito de ler.